Contação De História Infantil: A Lenda do Mapinguari

Essa história começa no dia em que participei de um concurso de fotografia.

– Venha! Venha! Faça a sua inscrição! A melhor e mais incrível foto tirada no meio da floresta amazônica vai receber um prêmio de 1 milhão de reais.

– 1 milhão de reais! – repetiram em coro as pessoas impressionadas com o valor.

– É minha chance de comprar uma fazenda e ter muitas cabeças de gado! – disse uma mulher.

– Vou poder ajudar minha mãe que está doente! – comentou um rapaz.

– É dinheiro que não acaba mais! Dá até pra casar de novo. – falou animado um homem velho.

Os motivos eram variados, acredito que todos válidos, porém, apenas um participante ganharia o concurso e seria capaz de concretizar o seu sonho. Não digo que a minha intenção era a mais digna, no entanto, se eu ganhasse, iria abrir a minha própria galeria de artes. 

Enfim, foram mais de 10 mil pessoas que se inscreveram no concurso. Todos teriam 15 dias para entrar na floresta, registrar uma foto oficial e entregar para os organizadores do evento avaliarem. Foi quando me toquei, e agora? O que eu iria fazer para conseguir a melhor e mais incrível foto da floresta amazônica? A concorrência era gigantesca! O jeito seria pensar em algo inédito, em algo impossível de se copiar. 

Montou-se um acampamento próximo da entrada da floresta, para servir de apoio aos participantes do evento. Passados 5 dias, eu ainda estava deitado na rede do alojamento, bem desanimado. Tinha participante que voltava da floresta se gabando de ter tirado uma panorâmica incrível com o drone, em 8k, que a foto era a mais perfeita de todas. Outros, voltavam dizendo que haviam registrado as árvores, os animais, o rio… tinha foto de tudo! E parecia que todas eram a mais perfeita de todas.

Eu precisava acelerar! Deixar de ficar me comparando com os outros e pensar em algo para mim.

– Já sei! Vou fotografar os… as… Ah, não… muito comum… Já sei! Não… muito comum também. Já sei!

Foi quando uma luz de inspiração veio à minha mente, lembrei de algo que ninguém poderia copiar, eu iria fotografar o MAPINGUARI!

Como assim? Você não sabe o que é Mapinguari? Deixa eu explicar. Os caboclos contam que dentro da floresta vive o Mapinguari, um gigante peludo com um olho na testa e a boca no umbigo. Para uns, ele é realmente coberto de pelos, porém, usa uma armadura feita do casco da tartaruga; para outros, a sua pele é igual ao couro de jacaré. Há também quem diga que seus pés têm o formato de uma mão de pilão.

O Mapinguari emite uns gritos semelhantes ao grito dado pelos caçadores. Se alguém responder, ele logo vai ao encontro do desavisado, que acaba perdendo a vida. A criatura é selvagem e não teme nenhum caçador, porque é capaz de dilatar o aço quando sopra no cano da espingarda. Os ribeirinhos amazônicos contam muitas histórias de grandes combates entre o Mapinguari e valentes caçadores. O Mapinguari sempre leva vantagem e os caçadores que conseguem sobreviver, muitas vezes ficam aleijados ou com terríveis marcas no corpo para o resto de suas vidas.

Há quem diga que o Mapinguari só anda pelas florestas de dia, guardando a noite para dormir. Quando anda pela mata, vai gritando, quebrando galhos e derrubando árvores, deixando um rastro de destruição. Por fim, dizem que ele só foge quando vê um bicho-preguiça.

Bom, agora que eu tinha escolhido o que fotografar, só me restava preparar a mochila e adentrar a densa floresta amazônica em busca da foto de 1 milhão de reais. A princípio, não sabia por onde começar, mas me diverti muito fotografando, por exemplo, o Angelim Vermelho, uma notável espécie de árvore, tendo 85 metros de altura, 9 metros de circunferência e 3 metros de diâmetro. Como me senti pequeno perante a grandeza da natureza!

Também fotografei Arapongas, Azulão, Caburé, Figuinha, Flautim… montei um verdadeiro álbum de figurinhas de pássaros. Infelizmente, na minha coleção ficou faltando o Uirapuru, contudo, mesmo que eu não tenha registrado sua imagem, pude ouvi-lo cantando, foi um momento inesquecível e mágico. 

Assim se passaram rapidamente mais 5 dias. E nada do Mapinguari aparecer. Será que eu deveria me contentar com as fotos que já havia tirado? Bastava escolher uma e missão cumprida! Porém, no fundo do meu coração, sentia que nenhuma ainda era a foto de 1 milhão de reais. Ela precisava ser única! Decidi ir ainda mais fundo na floresta.

Caminhei, caminhei, caminhei… caminhei tanto, que quando dei por mim, percebi que estava perdido. Procurei manter a calma, eram mais de 10 mil participantes, em algum momento, com certeza encontraria algum colega, ou então, a organização perceberia a minha falta e mandaria um resgate. 

Anoiteceu. No entanto, pressenti que aquela noite não seria igual às outras. Sabe quando você está completamente sozinho, mas no fundo sente que está sendo vigiado por alguém? De que na verdade, não está tão só assim? Ouvi um assobio aterrorizante. Calma, com certeza, era apenas um passarinho. Pois bem, resolvi acender uma fogueira para me aquecer e para afastar possíveis perigos. Mesmo com aquela sensação me incomodando e me arrepiando, pude notar que não era algo ruim, era só alguém ou algo cuidando da floresta, talvez um protetor. Curupira? Será que o Curupira estava me vigiando? Até hoje não sei a resposta.

Amanheceu. Hora de encontrar o caminho de volta. Depois daquela noite, meio assustadora, decidi entregar uma foto do Angelim Vermelho mesmo, tinha ficado perfeita, pelo menos para mim. Tudo bem, sei que teriam várias semelhantes, mas chega de aventura. Deixa pra lá este Mapinguari! Vai ver, ele nem existe. É só uma lenda! 

Caminhei, caminhei, caminhei… quando estava já perdendo as esperanças, ouvi um burburinho logo à frente. Era voz de gente, gente de carne e osso. Eu estava salvo! Havia encontrado, possivelmente, outros participantes e eles poderiam me ajudar a voltar! Espera aí! Firmei bem os olhos e, ao focar a visão, reparei que não eram pessoas de bem, eram caçadores! Corri para trás de uma das árvores e fiz o máximo possível de silêncio. Será que eles haviam percebido a minha presença? Tomara que não, se não eu estaria frito! 

Tentei olhar novamente, para ver em qual direção estavam indo. Eram 5 homens, todos armados com espingarda. Carregavam nos ombros algumas peles de animais e tinham duas gaiolas com alguns passarinhos presos. Fiquei morrendo de dó dos bichinhos, mas o que eu poderia fazer naquela situação? A melhor escolha era permanecer quieto e imóvel, até que eles desaparecessem.

Porém, algo aconteceu, e foi além da minha imaginação. Primeiro, ouvi um rugido ensurdecedor ecoar pela floresta. Quando olhei para trás, bem pertinho de mim, estava bem ali… O MAPINGUARI! Um gigante peludo com um olho na testa e a boca no umbigo… Em fração de segundos, pensei: “Vou gritar e sair correndo! Mas se eu fizer isso, os caçadores irão me ver e irão atirar em mim; porém, se eu ficar aqui parado, este bicho vai me comer vivo.” Se ficar o bicho come, se correr o bicho pega! Acho que meu pensamento demorou um pouco, pois a única coisa que fiz, foi ficar parado como estátua. 

O monstro correu em minha direção, era o meu fim, adeus mundo cruel! Só que ele passou reto. Sim, ele passou reto!!! O seu objetivo era outro. Foi quando percebi que quem estava com problemas eram os caçadores. Mapinguari voou sobre os caçadores, que começaram imediatamente a atirar. O ser protetor da floresta possuía um tipo de armadura, fazendo com que as balas ricocheteassem sem feri-lo. Em menos de 5 minutos, todos os caçadores haviam sido vencidos. Mapinguari soltou vários rugidos, como se comemorasse a vitória. Os passarinhos foram soltos, e as peles dos animais, foram enterradas pelo ser sobrenatural.

Em meio a aquela cena, lembrei de uma coisa… era a minha chance de fotografar o Mapinguari! Com as mãos tremendo, peguei a câmera, ajustei o obturador, calibrei o foco e… clique! Mapinguari soltou um rugido ensurdecedor, olhou para mim e veio correndo na minha direção. Parou bem na minha frente. Era o meu fim, adeus mundo cruel! Só que o monstro não me comeu, nem me atacou. A sua boca apenas sorriu. Foi quando entendi que ele queria uma foto dele sorrindo. Clique! Registrei o sorriso do Mapinguari. O gigante peludo soltou outro rugido e sumiu pela floresta.

Após vivenciar algo inacreditável, reiniciei a minha caminhada em busca do caminho de casa. Caminhei, caminhei, caminhei… Foram mais 2 dias dentro da amazônia… até que encontrei um grupo de participantes, eles tinham GPS, mapa e sabiam voltar para o alojamento. Enfim, fui resgatado.

Quando cheguei, depois de tomar um belo banho, decidi pegar a câmera para olhar a foto do Mapinguari, que sem sombra de dúvidas, seria a foto de 1 milhão de reais. Eu não havia contado para ninguém, queria que todos ficassem assombrados quando vissem a minha foto. Ao ligar o equipamento, busquei na galeria a última foto, a foto do sorriso do Mapinguari. Naquele momento, senti uma certa revolta em meu coração, a foto que antes estava completamente nítida, agora era apenas um borrão. 

Como isso aconteceu? Tinha certeza de que a foto havia ficado perfeita! Depois de alguns minutos refletindo, eu entendi. Se as pessoas tivessem uma prova de sua existência, seria aquele alvoroço, passariam a caçá-lo, igual fizeram com o Pé-grande. Acalmei meu coração e fiquei feliz por ter conhecido um ser tão especial, um verdadeiro protetor da natureza. E quando a pureza tocou de volta a minha alma, ao olhar novamente a foto, o borrão se desfez e pude novamente ver aquele sorriso inesquecível!

Autoria: Fada Inad 

Confira uma versão em áudio desta história, que faz parte do Audiobook Infantil O Uirapuru Me Contou: Lendas Amazônicas:

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