Um dia, enquanto passeava pela tribo, o jovem Quaraçá viu a coisa mais linda de sua vida, era um verdadeiro presente de Tupã, com olhos de jabuticaba e pele de urucum. Foi amor à primeira vista! Ele correu em direção a um amigo e perguntou:
Quaraçá: Kauê, qual o nome de tamanha formosura?
O amigo rindo de sua cara de bobo foi logo dizendo:
Kauê: Eu não sei, mas pode tirar os seus olhos dela, ela vai se casar com o cacique.
Ao ouvir aquelas palavras, o jovem sabia que o seu amor seria impossível, e logo a tristeza tomou conta dele. Porém, seu coração era valente e ele decidiu tentar viver este amor proibido.
Era fim de tarde, Quaraça se posicionou estrategicamente perto da oca do cacique. Pegou a sua flauta e começou a tocar uma belíssima canção. Não demorou muito, o plano deu certo, de dentro da oca surgiu a jovem mais linda de todas, que ficou admirada com o rapaz.
Anahí: Que linda canção! Qual o seu nome?
Quaraçá: Eu me chamo Quaraçá.
Anahí: Eu quis dizer, o nome da música… (rindo)
Quaraçá: Ah, é uma música de amor para Jaci, a Grande Lua. E qual o seu nome?
Anahí: Meu nome é…
Cacique: Anahí, quem está aí? (cacique interrompe)
Anahí: Este é Quaraça, ele toca flauta.
Cacique: Você sabia que não pode falar com a minha futura esposa sem permissão, sabia?
Quaraçá: Me desculpe, estava apenas tocando para tribo.
Anahí: Fui eu que vim falar com ele, não fiz por mal e ele não tem culpa.
Cacique: Venha para dentro, Anahí. Deixe para ouvir música no dia de nosso casamento.
Anahí se virou imediatamente e entrou para dentro da oca.
Quaraça com o coração partido sentiu que o cacique o mataria, caso se aproximasse novamente de Anahí. Então, só restava uma opção, se afastar.
Quaraçá passava horas e mais horas tocando a sua flauta no meio da floresta, era um som tão triste, que mais parecia um lamento aos céus.
A tristeza o consumia. Foi aí que ele resolveu pedir ajuda ao deus Tupã. No meio da floresta, tocou, tocou muito aquela flauta. Chorava e cantava, chorava e pedia ajuda… Chorava e cantava, chorava e pedia ajuda…
Tupã ficou sensibilizado com o sofrimento do jovem e resolveu ajudar.
Tupã: O amor verdadeiro é para ser vivido dia após dia. Farei com que você possa ver Anahí para sempre.
Tupã transformou Quaraçá num pequeno pássaro colorido, de belíssimo canto, e deu-lhe o nome de Uirapuru. No mesmo instante, Uirapuru voou pela floresta e voltou à tribo em busca de sua amada. Cantou por horas e horas! Assim, conseguiria chamar a atenção de Anahí e poderia vê-la sem que o cacique percebesse. Depois, retornou para a floresta. E assim passou a fazer todos os dias, encantando a todos com seu forte e lindo canto. Toda vez que via a amada, ele pousava e cantava pra ela, que ficava maravilhada com o som daquele pequeno e lindo pássaro.
Com o tempo, o cacique da tribo também ficou encantado com o canto do Uirapuru. Queria que ele ficasse cantando ali, para sempre.
Cacique: Vou aprisionar este pássaro! Ele vai ser meu!
O cacique fez uma arapuca e saiu à sua procura, até que… perdeu-se na floresta.
Cacique: Onde está este maldito pássaro? Não consigo achar. (silêncio) Que barulho é esse? (silêncio) Tem alguém aí? Vamos! Apareça! Eu não tenho medo de você! (silêncio) Vamos! Apareça e me enfrente! Ah, nãooo!
Dele, ninguém mais teve notícia. Dizem que foi castigo do Curupira, o protetor dos bichos da floresta, que não pode ver animal sofrendo sem ficar danado de bravo.
A bela Anahí ficou sozinha, mas nem teve tempo pra tristeza, porque o Uirapuru chegava ali todos os dias, com aquele canto lindo, pra consolar a amada. Mais que isso, o pássaro soltava aquele canto triste, porque acreditava que, assim, ela poderia descobrir quem ele era, e isso quebraria o encanto. Mas o que se sabe é que ele continua cantando nas matas até hoje…
Autoria: Fada Inad
Confira uma versão em vídeo desta história com teatro de objetos:
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